Desenvolvimento Moral - Kohlberg






Lawrence Kohlberg dedica-se a estudar o desenvolvimento moral do ser humano, retomando e aperfeiçoando o modelo piagetiano. Realizou estudos longitudinais nos Estados Unidos acerca do tema, utilizando-se de dilemas morais1, aos quais expunha indivíduos que entrevistava utilizando-se do método clínico, como Piaget, em suas pesquisas. Apresentava tais dilemas e pedia aos sujeitos que apontassem soluções aos mesmos sempre justificando seus dizeres. A seguir, analisava e categorizava as informações que obtinha considerando as justificativas, o valor moral intrínseco e os argumentos apresentados pelo sujeito participante da entrevista, detectando em qual nível a pessoa se encontra. Através do diagnóstico, propõe maneiras de intervir no intuito de fazer com que as pessoas caminhem de um nível de moralidade a outro subsequente.
Kohlberg criou diversos dilemas a fim de explorar o raciocínio da criança a respeito de um problema moral difícil, como o valor da vida humana ou as razões para fazer coisas “certas”, sendo um de seus mais famosos, o chamado “O Dilema de Heinz”. 

Dilema de Heinz: Na Europa, uma mulher estava quase à morte, com um tipo específico de câncer. Havia um remédio que os médicos achavam que poderia salvá-la. Era uma forma de rádio que um farmacêutico da mesma cidade havia descoberto recentemente. O remédio era caro para se fazer e o farmacêutico estava cobrando dez vezes mais do que ele lhe custava na fabricação. Ele pagava 200 dólares pelo rádio e cobrava 2000 dólares por uma pequena dose do remédio. O marido da mulher doente, Heinz, procurou todo mundo que ele conhecia para pedir dinheiro emprestado, mas só conseguiu aproximadamente 1000 dólares, a metade do preço do remédio. Ele disse ao farmacêutico que sua mulher estava morrendo e pediu-lhe para vender o remédio mais barato ou deixá-lo pagar o restante depois. Mas o farmacêutico disse: “Não, eu descobri o remédio e vou ganhar muito dinheiro com ele”. Então Heinz ficou desesperado e assaltou a farmácia para roubar o remédio para sua mulher.

O autor afirma que as pessoas podem defender a mesma ação por razões muito diferentes, que representam distintos estágios do raciocínio. Kohlberg baseou toda a sua teoria nesse pensamento de autonomia, para a formação de indivíduos verdadeiramente conscientes e comprometidos com pensamentos e atitudes morais. A teoria sustenta que o raciocínio moral, a base para a ética do comportamento, tem seis identificação dos estágios de desenvolvimento. Considera que o desenvolvimento moral se desenrola em seis estágios independentemente da cultura, grupo social ou país. Cada estágio apresenta características próprias, estando relacionado com a idade e representando um sistema de organização mais compreensivo e qualitativamente diferente do estágio anterior, são eles:

Nível I - Pré-convencional ou Pré-Moral (de 2 a aproximadamente 6 anos)
Nível pré-convencional corresponde, em termos gerais, à moralidade heterônoma estudada por Piaget. Neste nível, a criança interpreta as questões de certo e errado, bom e mau. Reduz-se a um conjunto de normas externas, a que se obedece para evitar o castigo, a punição, ou para satisfazer desejos e interesses estritamente individualistas.

        Estágio 1 - Orientação para a punição e a obediência
a) Orientação Moral: Para a punição e a obediência
b) Justificativa dos julgamentos: Evitar o castigo e o exercício do poder superior que
as autoridades têm sobre o indivíduo
c) Perspectiva sócio-moral: Não distingue nem coordena perspectivas. Apenas existe uma perspectiva correta, a da autoridade.
        
        Estágio 2 - Hedonismo Instrumental Relativista
a) Orientação Moral: Orientação calculista e instrumental; pura troca; hedonismo e
pragmatismo
b) Justificativa dos julgamentos: Servir a necessidades e interesses próprios em um
mundo em que há outras pessoas com seus interesses
c) Perspectiva sócio-moral: Distingue perspectivas, coordena-as e hierarquiza-as do
ponto de vista dos interesses individuais

Nível II - Convencional (idade escolar)
O nível convencional se define pela conformidade às normas sociais e morais vigentes. Procura-se viver conforme as regras estabelecidas, com o que é socialmente aceito e compartilhado pela maioria, respeitando a ordem estabelecida. Portanto, há uma tendência a agir de modo a ser bem visto aos olhos dos outros, para merecer estima, respeito e consideração.
         
        Estágio 3: Moralidade do bom garoto, da aprovação social e das relações interpessoais
a) Orientação Moral: Orientação para o bom menino e para uma moralidade de
aprovação social e interpessoal
b) Justificativa dos argumentos: Precisa corresponder às expectativas alheias. Tem
necessidade de ser bom e correto a seus olhos e aos olhos dos outros ( família, amigos...); importa-se com os outros: se trocasse de papel iria querer um bom comportamento de si próprio. Este é o estágio da regra de ouro: “aja com os outros como gostaria que eles agissem com você”
c) Perspectiva sócio moral: do indivíduo em relação aos outros indivíduos.

       Estágio 4: Orientação para a lei e a ordem, autoridade mantendo a moralidade
a) Orientação Moral: Orientação para a manutenção da lei, da ordem e do progresso
social
b) Justificativa dos argumentos: Manter o funcionamento das instituições como um
todo, auto respeito ou consciência compreendida como cumprimento de obrigações definidas para si próprio ou consideração das consequências dos atos. Pergunta-se: “o que acontecerá se todos fizerem o mesmo?”
c) Perspectiva sócio moral: Distingue perspectivas, coordena-as e hierarquiza-as do
ponto de vista de uma terceira pessoa imparcial, institucional e legal.

Nível III- Pós-convencional (adolescência)
Valor moral das ações não está na conformidade às normas e padrões morais e
sociais vigentes; está vinculado aos princípios éticos universais, tais como o direito à vida, à liberdade e à justiça. Portanto, as normas sociais são entendidas na sua relatividade, cuja finalidade é garantir que estes princípios sejam respeitados. Caso isto não aconteça, as leis devem ser transformadas e até desobedecidas. Neste nível, a sociedade não teria sentido se não estivesse a serviço desses direitos individuais fundamentais, que sejam universalizáveis, reversíveis e prescritivos.

        Estágio 5: A orientação para o contrato social democrático
a) Orientação Moral: Orientação para o contrato social, para o relativismo da lei e
para o maior bem para o maior número.
b) Justificativa da argumentação: Obrigação de cumprir a lei em função de um
contrato social: protege seus direitos e os dos outros. Leis e deveres são baseados em cálculo do maior bem para o maior número de pessoas (critério da utilidade)
c) Perspectiva sócio-moral: Distingue perspectivas, coordena-as e começa a hierarquizá-las do ponto de vista de uma terceira pessoa moral, racional e universal.

        Estágio 6: Princípios universais de consciência
a) Orientação Moral: Orientação para os princípios éticos-universais, prescritivos, auto-escolhidos, e generalizáveis.
b) Justificativa da argumentação: Como ser racional, percebe a validade dos
princípios e compromete-se com eles.
c) Perspectiva sócio-moral: Distingue perspectivas, coordena-as de um ponto de
vista ideal e hierarquiza-as segundo uma perspectiva moral, racional e universal.

Complexo de Electra e Edipo





O complexo de Electra é baseado num mito grego segundo o qual Electra, para vingar o pai, Agamêmnon, incita seu irmão Orestes a matar a mãe, Clitemnestra, e o seu amante Egisto, que tinham assassinado Agamêmnon.
A menina vive este complexo, mas neste caso sente inveja do pénis, originando o denominado complexo de Electra.
A menina, nesta fase, sente uma espécie de frustração e ressentimento para com a mãe, culpabilizando-a por não possuir o pénis, este é um momento crítico no desenvolvimento feminino.
Segundo Freud: "A descoberta de que é castrada representa um marco decisivo no crescimento da menina.
Daí partem três linhas de desenvolvimento possíveis: uma conduz à inibição sexual ou à neurose, outra à modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade e a terceira, finalmente, à feminilidade normal"(1933, livro XXIX, p.31).
Inicialmente, tal como nos meninos, é para a mãe que são dirigidos os impulsos eróticos da menina, mas por considerar-se castrada pela mãe, ela procura nas excitações clitorianas a resposta para o que a diferencia anatomicamente do menino, mas a  expectativa de que  o clitóris cresça e se transforme num pênis é logo descartada. O que gera um sentido de frustração para a com a mãe, quando ela sente que precisa abandonar o foco do clitóris para a vagina e canalizar o amor que sentia pela mãe no amor paterno.

A menina deseja "ter" o seu pai e vê sua mãe como a maior rival.
A menina tenta seduzir o pai e, se o casal for funcional, quem vai fazer o rompimento é a mãe, esclarecendo  a filha de que ele é o pai dela e marido da mãe.
É num primeiro momento um choque entre mãe e filha, mas através de um bom relacionamento de troca e identificação com a mãe (colocar os cremes da mãe, o batom, os sapatos, as roupas) termina aqui o complexo de Electra.








O complexo de Édipo pode ser explicado pela lenda segundo a qual,o oráculo profetiza a Laio que o seu próprio filho o matará, e tomará por esposa a mãe.
Depois de ouvir isto Laio ordena que perfurem os pés do seu filho recém-nascido – uma castração simbólica – e que o abandonem nas montanhas.
De tal modo o pai, ao abandonar o filho nas montanhas  impede o acesso e contacto com a  sua mãe.

A descoberta do órgão genital dá início ao Complexo de Édipo. O menino ao descobrir o pénis  cria a necessidade de procurar um objeto que permitirá a obtenção de prazer, ou seja, segundo Freud, um elemento do sexo oposto, neste caso, a Mãe.
Porém, se tudo ocorrer de maneira funcional, a criança "entende" que a mãe tem um outro "objeto de desejo" que é o seu pai.
É quando acontece a "triangulação" ou a questão "edipiana".
Partindo da psicanálise, podemos afirmar que, esse é um período essencial para a estruturação da personalidade e a base da identidade das pessoas..
É uma fase complexa, confusa para a criança, embora o menino veja o pai como rival, pelo desejo que ele sente e a necessidade da atenção e proximidade com a mãe, ao mesmo tempo, precisa e quer o amor do pai, com quem se identifica.
É nesse sentido que a mãe também passa a ser vista com rivalidade.
Nesta fase, acontece o primeiro choque entre Pai e Filho, pois é o Pai que faz e deve fazer esse rompimento acontecer, segundo Freud.
O menino  vê-se em conflito, entre a internalização do pai e o desejo de ser como o pai, para ter uma mulher como a mãe.
Freud aponta que, neste momento, acontece a primeira identificação masculina, o que torna fundamental a presença de um pai amoroso, consciente do seu papel masculino e da vivência de um relacionamento equilibrado e afetivo entre o casal.
É um momento de construção da identidade masculina do menino, na formação da sua personalidade.

Segundo Freud, mesmo na impossibilidade da presença do Pai, este corte deve ser feito  por outro homem, de preferencia masculino como tio ou avô.
Outra situação ocorre quando o pai (sexo masculino) ocupa um papel feminino na relação do casal e a mãe (sexo feminino), ocupa um papel masculino,
e nesse caso ela faz o corte, diante da inversão cultural de papéis, nos casos em que o casal aceita esta inversão e vive em harmonia, a própria mãe ao fazer o rompimento,
por ser ela a que ocupa o papel masculino no relacionamento, acaba explicando ao filho que ela tem o seu namorado (que é o pai), não impedindo que o filho faça a identificação com o pai,
devido a relação harmoniosa e afetiva que o filho vivencia. Mas, ao mesmo tempo, que o filho se identifica com o pai, ele procura na mãe, referenciais para a formação de sua identidade e personalidade,
podendo  tornar-se um homem com maior sensibilidade como o pai e buscará uma mulher para se relacionar que tenha características fortes como as da mãe. Ainda assim, é possível haver um equilíbrio no seu desenvolvimento afetivo-sexual.
No entanto, pode haver um Complexo de Édipo disfuncional, quando um casal vive uma relação na qual há a troca da função de papéis, mas esta não se dá de forma harmoniosa.
Em casos assim, a mãe sente-se visivelmente desconfortável na relação. A existência de conflitos entre o casal impede que o filho se identifique com o pai, ou seja, a própria mãe cria barreiras verbais ou não verbais que fazem com que o filho não queira ser como o pai.
E então, o filho (sexo masculino) acaba por criar uma referência masculina a partir do papel exercido pela mãe, podendo buscar encontrar um outro homem (gênero masculino, mas com figura feminina), o papel feminino (como o pai), o que caracterizaria um complexo de Édipo disfuncional e truncado.